Cacia detém várias casas do início do séc. XX com azulejos típicos Aveirenses
A azulejaria tornou-se ao longo dos séculos uma expressão artística tipicamente portuguesa, sendo o revestimento de fachada uma especificidade desse tipo de arte que tão bem reflete o antigo gosto português e a memória de tempos idos de casas pitorescas e um modo de vida mais simples. A preservação dessa memória passa inevitavelmente pela conservação dos azulejos e do enquadramento arquitetónico onde se encontram
Ocorreram também outros acontecimentos que contribuíram para a proliferação do azulejo de fachada, nomeadamente a adoção, por parte das fábricas de cerâmica, de técnicas, materiais e tecnologias aperfeiçoadas em Inglaterra. A nível da decoração deu-se o ressurgimento da estampilha e o uso do decalque (estampagem), que produzia padrões sem imperfeições a nível do desenho ou da cor, através de John Sadler e Guy Green, que havia surgido ainda no século XVIII, mas a revolução deu-se em 1835, com Herbert Minton que contribuiu com a prensa mecânica, após anos de trabalho nesse sentido (3). Também foi importante a produção e vendas de tintas e vidrados prontos a usar, pela A. F. Wenger (13). Surgia assim o azulejo semi-industrial, cuja produção da chacota continuava manual mas a sua decoração tornara-se industrial e em série. Outra mudança que permitiu o aumento da rapidez de produção foi a introdução da pasta de pó-de-pedra que diminuía os empenos e, consequentemente, facilitava a aplicação da decoração, além de baixar os custos ao reduzir a quantidade de estanho necessária para se obterem vidrados brancos opacos, devido à sua cor branca. Todas estas técnicas aceleraram a produção de azulejos e baixaram os seus custos, contribuindo para a economia de escala da produção azulejar, que impulsionou não só a arte do azulejo, como a economia local, com o aumento de postos de trabalho e exportações.
A azulejaria de fachada passou a ser uma opção para um maior leque de pessoas, sendo provavelmente uma das razões que fazem com que encontremos em Cacia construções de fachada azulejada tanto com um cariz majestoso, com mais de um piso, decorações em faiança e cantaria trabalhada, como também casas térreas, muito simples
A volumetria dos azulejos abrange os lisos, os relevados e os biselados, sendo os primeiros os mais comuns. Os motivos decorativos são essencialmente padrões de motivos geométricos e/ou florais, onde o padrão se forma pela repetição de, geralmente, um módulo. Existem ainda os que criam efeitos trompe l‟oeil, como os biselados e a cercadura, que rodeia a fachada, cujos motivos são diferentes do padrão central, com motivos especiais nos cantos, que demarcam os limites de azulejo e da cantaria . A técnica de decoração mais utilizada é a estampilhagem, a qual se usa de um papel encerado, onde o desenho é recortado e a tinta aplicada a pincel. Para cada cor é necessária, na maior parte das vezes, uma estampilha e em alguns motivos são ainda pintados à mão certos pormenores. A estampilha, substituta da pintura manual, ―(…) veio revolucionar a decoração dos azulejos, tornando-se sem dúvida a técnica mais utilizada por permitir obter azulejos policromáticos de excelente efeito decorativo.”(20 p. 266). Apesar de ser usada uma técnica semi-industrial que poderia levar à repetição exaustiva dos padrões esta possibilidade foi contornada pelo uso de cores diferentes na recriação de um mesmo padrão, o que cria similitudes entre fachadas distintas ao mesmo tempo que cria variedade na face da cidade.
A Arte Nova irá manifestar-se na azulejaria portuguesa sobretudo no início do século XX, acompanhando a renovação dos hábitos sociais e o desenvolvimento cosmopolita da época. Para esta arte realça-se a importância de William Morris e William de Morgan ambos impulsionadores do desenvolvimento da estética Arte Nova. Segundo António José de Barros Veloso e Isabel Almasqué, entre 1903 e 1920, as fábricas de cerâmicas nacionais produziram inúmeros exemplares Arte Nova, destinados sobretudo a decorar fachadas, embora dentro do azulejo padrão de fachada seja o estilo com menos exemplares. Mesmo em Portugal, tal como acontecia em diversos países da Europa, havia características diferentes de região para região. Os elementos decorativos estendem-se a frontões, frisos e outros elementos que pontuam os edifícios. A figura feminina, igual fonte de inspiração, assemelha-se às representações europeias. Já a azulejaria Arte Nova produzida em Lisboa destaca-se pelo seu ecletismo e pela utilização de elementos que só se verificam na capital. Numa altura em que era prática revestir os edifícios com azulejos semi-industriais, as fábricas, ou a maioria delas, adaptaram a sua produção introduzindo padrões com ornatos vegetalistas e utilizando três técnicas: estampagem, aerografia e aplicação de vidrado colorido sobre a superfície relevada do azulejo