CACIA
CACIA
A primeira referência escrita a Cacia consta numa doação do Conde D. Henrique e D. Teresa, ao Mosteiro de Lorvão, datada de 1106.
No entanto este povoado é muitíssimo mais antigo. Com efeito, o especialista aveirense em toponímia Manuel Carvalho (1999: 172) é de opinião que o topónimo poderá ter origem étnica, relacionada com o estabelecimento de um povo conhecido por cassi, lembrando a existência, na Europa, de etnónimos com o elemento –casses, como bayocasses, sucasses, tricasses, veliocasses, viducasses. Acrescente-se, a propósito, que Júlio César, no seu Commentarii de Bello Gallico (Livro 5.21) afirma que uma das tribos que encontrou quando atravessou o Tamisa, durante a sua segunda expedição à Grã-Bretanha, era designada, precisamente, por cassi.
Outra hipótese de interpretação do topónimo que Manuel Carvalho (1999: 172) admite, também remontando à época pré-romana, é a relação com o carvalho, como se sabe, a árvore sagrada dos celtas, designada por cassano, em gaulês, casse, em Occitânico, e cassou (cassiaon, no plural), nos falares pirenaicos. Petrucci (2004: 20), relativamente a um topónimo idêntico localizado em França remete a sua origem para cassania, carvalho.
PÓVOA DO PAÇO
O topónimo Póvoa é derivado do verbo latino popūlare, que significava «encher com pessoas, estabelecer-se, etc.» (LANG, 1974: 211) e aparece no norte da Península Ibérica, sobretudo «em zonas de reconquista relativamente temporã (séculos IX e X)» (op. cit.: 215). É particularmente comum em Portugal, na região entre os rios Douro e Mondego. Designa, quase sempre, uma pequena localidade ou casario (ibid).
Quanto a Paço, Manuel Carvalho, no blog “Toponímia: gentes & lugares” (2007), explica que as villae, ou vilas, grandes explorações agrícolas, terão sido introduzidas no Noroeste da Hispânia no tempo de Augusto, erguendo-se nessas propriedades várias construções, entre as quais a do proprietário, que, segundo o autor, no Noroeste ibérico se chamaria palatium (> Paaço> Paço) ou o seu diminutivo palatiolum (> Paaçolo > Paçô).
Todavia, Ana Isabel Boullón (2007: 293) discorda desta interpretação e remete a origem de Paço para o vocábulo indo-europeu palatio, que significaria curral, pocilga ou redil, comum a oeste da Península Ibérica (op.cit.: 291), de influência indo-europeia, lembrando que os palatium e palatinus latinos estiveram, na sua origem, ligados a pastores e rebanhos, sendo que, para a autora, «es tardío el sentido actual de ‘palacio’ y debido a que en el Palatinus estaba la residencia imperial» (op. cit.: 292).
QUINTÃ DO LOUREIRO
O mesmo que Quinta do Loureiro. Segundo Maria Alice Fernandes e Esperança Cardeira, quintã deriva do latim quintana e significa «propriedade rural com um espaço dianteiro ou contíguo à casa rural».
Estas autoras defendem que a denominação quintã «da propriedade senhorial foi exclusiva do norte hispânico e que a sua fixação na toponímica nas regiões setentrionais portuguesas remonta à primeira fase da expansão territorial cristã».
SARRAZOLA
Para Manuel Carvalho, o topónimo Sarrazola poderá designar um curso de água e está, na sua origem, associado ao verbo sar (correr, fluir) + as (desinência do nominativo singular) + ola (elemento derivativo -l- precedido da vogal -o- atestado nas línguas célticas).
VILARINHO
A primeira referência escrita, conhecida, a este lugar reporta-se a 1106, em doação do Conde D. Henrique e D. Teresa, ao Mosteiro de Lorvão, de metade de Cacia.
Topónimo surgido na Baixa Idade Média, composto pelo adjetivo do latim villare, entretanto substantivado, que significava aldeola ou lugarejo, a que se juntou o sufixo diminutivo -inu (de villare– + ‑inu-), igualmente com o significado de pequena aldeia ou lugar.
ILHA DE TESTADA
A primeira referência escrita a esta ilha consta numa carta de doação em que é beneficiário o meirinho-mor da comarca entre Douro e Minho, prior D. Frei Álvaro Gonçalves Camelo, com data de 1407.
Os topónimos “testado”, testados” e “testada” são comuns na toponímia portuguesa e galega. Do latim testor, -ari, depor, deixar em testamento. Em regra, este topónimo surge precisamente associado a parcela de terreno deixada em testamento.
CARVALHO, Manuel José Gonçalves, 1999, Povoamento e vida material no concelho de Aveiro, (dissertação submetida ao grau de Mestrado em Estudos Portugueses), Aveiro: Universidade de Aveiro.
GASPAR, João Gonçalves, Calendário Histórico de Aveiro, p. 34
BOULLÓN, A. I. et al., 2005, «Arco(s), Busto(s), Pazo(s) ¿Toponimia de Ganadería?», in Callaica Nomina, A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Meza, pp. 283-298.
CARVALHO, Manuel José Gonçalves, 2007, in blog “Toponímia: gentes & lugares”, http://deaveiroeportugal.blogspot.pt/2007/01/vila-vilar-vilarinho-partes-e.html
LANG, Jürgen, 1974, «PUEBLA- PUEBLO: portación a la historia de un topónimo y de un apelativo», in Revista de Filologia Española, vol. LVII nº 1/4, pp. 211-230
FERNANDES, Maria Alice, e CARDEIRA, Esperança, 2013, «Toponímia do Povoamento Rural: Os continuadores do latim Quintana e seus derivados», in GALVÃO, Vânia C. Casseb et al. (eds.), 2013, Língua Portuguesa: ultrapassando fronteiras. unindo culturas (Anais do IV Simpósio mundial de estudos de língua portuguesa). Goiânia: FUNAPE, pp. 1913-1921
CARVALHO, Manuel José Gonçalves, 1999, Povoamento e vida material no concelho de Aveiro, (dissertação submetida ao grau de Mestrado em Estudos Portugueses), Aveiro: Universidade de Aveiro, pág. 258.
CARVALHO, Manuel, in http://deaveiroeportugal.blogspot.pt/2007/01/vila-vilar-vilarinho-partes-e.html
GASPAR, João Gonçalves, Calendário Histórico de Aveiro, p. 34
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/DLPO/testado
GASPAR, João Gonçalves Gaspar, Calendário Histórico de Aveiro, p. 314