"4 de junho de 1778 - O vigário da freguesia de Cacia, D. José da Pureza de Nossa Senhora, foi autorizado a continuar a construção da Capela de Santo António, no lugar de Vilarinho, a qual tinha sido principiada pelo seu antecessor, padre José dos Santos Pires."
Bibliografia: Ramos, Porfírio (1997). Breve Cronologia Caciense. Cacia: Centro Social Paroquial de Cacia, pp. 23.
Morada: R. do Salgueiral, Vilarinho, Cacia (Obter direções)
Santo António (português europeu) ou Antônio (português brasileiro) de Lisboa ou de Pádua,[1] OFM (Lisboa, 15 de agosto de 1195? — Pádua, 13 de junho de 1231), de sobrenome incerto[a] mas batizado como Fernando, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII.[2]
Primeiramente pertenceu à Ordem dos Cónegos Regulares da Santa Cruz, que seguiam a Regra de Santo Agostinho, no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia e da literatura patrística, científica e clássica. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França, retornando posteriormente à Itália, onde encerrou sua carreira. No ano de 1221 fez parte do Capítulo Geral da Ordem em Assis, convocado pelo fundador, Francisco de Assis. Posteriormente, quando a sua eloquência e cultura teológica se tornaram conhecidas, foi nomeado mestre de Teologia em Bolonha, tendo, a seguir, pregado contra os albigenses e valdenses em diversas cidades do norte da Itália e no sul França. Em seguida foi para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.
Distinguindo-se em vida como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande taumaturgo, sua grande fama de santidade levou-o a ser canonizado pela Igreja Católica apenas 11 meses após a morte. António é também tido como um dos intelectuais mais notáveis de Portugal do período pré-universitário. Tinha grande cultura, documentada pela coletânea de sermões que deixou, onde fica evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como com diversos aspetos das ciências profanas, referenciando-se em autoridades clássicas como Plínio, o Velho, Cícero, Séneca, Boécio, Galeno e Aristóteles, entre muitas outras. O seu grande saber tornou-o uma das mais respeitadas figuras da Igreja Católica do seu tempo. Lecionou em universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja franciscano. São Boaventura disse que ele possuía a ciência dos anjos. Hoje é visto como um dos grandes santos do Catolicismo, recebendo larga veneração e sendo o centro de rico folclore.[3]
Santo António é o padroeiro principal da cidade de Lisboa (São Vicente é o padroeiro do Patriarcado de Lisboa), sendo também o padroeiro secundário de Portugal (a padroeira principal é Nossa Senhora da Conceição).[4][5][6] É igualmente padroeiro da cidade italiana de Pádua.
Biografia
Primeiros anos
Santo António nasceu em Lisboa em data incerta, numa casa, assim se pensa, próxima da Sé, às portas da cidade, no local onde posteriormente se ergueu a igreja que lhe foi dedicada. A tradição indica 15 de agosto de 1195, mas não há documento fidedigno que confirme esta data. Também foi proposto o ano de 1191, mas, segundo um seu biógrafo, o padre Fernando Lopes, as contradições em sua cronologia só se resolveriam se ele tivesse nascido em torno de 1188. Tampouco se sabe quem foram seus pais. Nenhuma das biografias primitivas os nomeiam, e deles só se sabe, sem uma segurança definitiva, que viviam em boa condição econômica e eram plebeus. Somente no século XIV, a partir de tradições orais, é que se começou a atribuir ao pai o nome de Martim ou Martinho de Bulhões, e à mãe, o de Maria Teresa Taveira.[2][7][8] Que seu pai se chamasse Martinho ou Martim, parece ser verdade, pois o obituário de São Vicente de Fora recorda o falecimento de uma irmã do taumaturgo que era freira e que atendia pelo nome de Maria Martini ou Martins, que de acordo com as regras da onomástica da época deve ser interpretado como "Maria filha de Martinho".
De qualquer forma, esses nomes se fixaram na memória popular, e com a crescente fama do santo, não custou a biógrafos tardios atribuírem também aos seus pais uma dignidade superior. Do pai foi dito descender do celebrado Godofredo de Bulhão, comandante da I Cruzada, e da mãe, que descendia de Fruela I, rei de Astúrias. Tais parentescos nunca puderam ser comprovados e tudo indica que são apenas lendas. No entanto, uma abastada família Bulhão de Lisboa — Bolhom, na grafia da época, que não tinha nada a ver com Godofredo — manteve por séculos uma forte tradição de pertencimento do santo à sua linhagem.
Fez os primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior (hoje Sé de Lisboa), sob a direção dos cónegos da Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho. Como era a prática da ordem, deve ter recebido instrução nas artes liberais do trivium e do quadrivium, o que certamente plasmou seu caráter intelectual. Ingressando ainda um adolescente como noviço da mesma Ordem, no Mosteiro de São Vicente de Fora, iniciou os estudos para sua formação religiosa. A biblioteca de São Vicente de Fora era afamada pela sua rica coleção de manuscritos sobre as ciências naturais, em especial a medicina, o que pode explicar as constantes referências científicas em seus sermões.
Poucos anos depois pediu permissão para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a fim de aperfeiçoar sua formação e evitar distrações profanas, já que era constantemente visitado por amigos e parentes. Coimbra era na época o centro intelectual de Portugal, e ali deve ter-se envolvido profundamente no estudo da Bíblia e nos textos dos Padres da Igreja. Nesta época entrou em contato com os primeiros missionários franciscanos que haviam chegado a Portugal em 1217, e que estavam a caminho do Marrocos para evangelizar os mouros. Sua pregação do Evangelho no espírito de simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana, e sua determinação missionária, devem ter tocado o sentimento de Fernando. Entretanto, uma impressão ainda mais forte ocorreu quando os corpos desses frades, mortos em sua missão, voltaram a Coimbra, onde foram honrados como mártires. Autorizado a juntar-se a outros franciscanos que tinham um eremitério nos Olivais, sob a invocação de Santo António do Deserto, mudou seu nome para António e iniciou sua própria missão em busca do martírio.
A sua missão
Por essa altura, decidiu deslocar-se ele também a Marrocos, mas, lá chegando, foi acometido por grave doença, sendo persuadido a retornar. Fê-lo desalentado, já que não havia proferido um único sermão, não convertera nenhum mouro, nem alcançara a glória do martírio pela fé. No regresso, uma forte tempestade arrastou o barco para as costas da Sicília, onde encontrou antigos companheiros. Ali se quedou até a primavera de 1221, dirigindo-se com eles então para Assis a fim de participarem do capítulo da ordem — o último que seria feito com a presença do fundador. Em Assis encontrou-se com São Francisco de Assis e os seus primeiros seguidores, um evento de grande importância em sua carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo, na província da Romanha, ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.
Pouco depois aconteceu uma ordenação de frades em Forlì, quando deixou o isolamento e para lá se dirigiu. Até então os franciscanos não sabiam de sua sólida formação, mas faltando o pregador para a cerimónia, e não havendo nenhum frade preparado para tal, o provincial solicitou a António que falasse o que quer que o Espírito Santo inspirasse. Protestou, mas obedeceu, e dissertando para os franciscanos e dominicanos lá reunidos de forma fluente e admirável, para a surpresa de todos, foi de imediato destinado pelo provincial à evangelização e difusão da doutrina pela Romanha. Entretanto, a prática franciscana desencorajava o estudo erudito, mas em novembro de 1223 o papa Honório III sancionou a forma final da Regra da Ordem Franciscana, autorizando uma formação mais aprimorada, desde que submissa ao trabalho manual, à prece e à vida espiritual.
Recebendo a aprovação para a tarefa pastoral do próprio Francisco, passou por Vecelli, onde impressionou o erudito abade Gallo pelo seu conhecimento da teologia mística e das escrituras. Em seguida fixou-se em Bolonha, onde pregou e inaugurou uma escola de teologia que depois foi incorporada pela Universidade de Bolonha. Seus méritos levaram-no a ser chamado ali de Pater Scientia e Doctor Veritatis (Pai da Ciência e Doutor da Verdade). Deslocando-se então para a França, combateu a heresia dos albigenses em Langedoc, participou do Capítulo franciscano em Arles, ensinou em conventos de Toulouse e Montpellier, e foi indicado guardião do convento de Puy-en-Velay.
Em 1227, após a morte de Francisco, serviu como enviado da Ordem ao papa Gregório IX, para apresentar-lhe a Regra da Ordem. No mesmo ano foi indicado ministro provincial da Romanha e fundou um convento em Pádua. Entre 1228 e 1229 pregou em diversas cidades do Vêneto e em Florença. Em fins de 1229 estava em seu convento em Pádua. Participou do Capítulo Geral em Assis, em maio de 1230, quando renunciou à função de provincial. Em junho viajou a Roma para debater com o papa a interpretação de certos aspectos da Regra. Entre 1230 e 1231 deu forma definitiva aos seus sermões escritos, período em que pregou com grande sucesso para audiências cada vez maiores.
Sempre trabalhando pelos necessitados, envolveu-se também em questões políticas e sociais, fazendo a paz entre partidos em disputa, obrigando usurários e financistas a devolver o dinheiro extorquido, convertendo prostitutas. Em Pádua obteve do governo que passasse uma lei para aliviar as penas dos presos por dívidas. Solicitou ao tirano Ezzelino de Romano a libertação de presos guelfos, e segundo Huber, embora pareça que não teve sucesso, o grande risco para si mesmo envolvido na missão evidencia sua preocupação com o povo comum.
Últimos dias
Pouco depois da Páscoa de 1231 sentiu-se mal e deixou Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos arredores da cidade. Outras versões dizem que terá sido hospedado pelo conde Tiso, devido ao estado de saúde precário. Percebendo que a morte estava próxima, pediu para ser levado de volta a Pádua, mas quando chegou o convento das clarissas de Arcella, subúrbio de Pádua, ali morreu, a 13 de junho de 1231. As clarissas reclamaram seu corpo, mas a multidão acabou por saber da sua morte e levou-o para ser sepultado na Igreja de Nossa Senhora em Pádua.
A sua fama de santidade era tamanha que, imediatamente após seu falecimento, o papa criou uma comissão para proceder à sua canonização. Foi canonizado no ano seguinte, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX em cerimônia na Catedral de Espoleto, quando o novo santo foi elogiado em altos termos. A canonização em menos de um ano é um recorde na história da Igreja Católica. No seu processo, a Igreja considerou 53 relatos de milagres da época, coletados por meio de religiosos incumbidos de entrevistar populares em diversas regiões por onde andou António em vida.
Os seus restos mortais repousam desde 1263 na Basílica de Santo António de Pádua, construída em sua memória logo após a sua canonização. Quando a sua tumba foi aberta para iniciar o processo de transladação dos despojos, a sua língua foi encontrada incorrupta, e São Boaventura, presente no ato, disse que o milagre era prova de que sua pregação era inspirada por Deus. Em 1315 as suas relíquias foram transferidas para uma nova capela na basílica. Foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro de 1946, com o título de Doctor Evangelicus (Doutor Evangélico), e é comemorado no dia 13 de junho.