Descrição: "O Sancho e o Mencho eram dois gémeos solteirões que viviam nas imediações do que agora é a Levada. Apesar de gémeos, eram muito diferentes na maneira de ser. O Sancho era muito trabalhador, poupado, com uma vida muito regrada. Ao contrário, o Mencho era um grande calaceiro, gastador e amigo da bebida. A meio de uma noite de verão, o Mencho acordou com um barulho e apercebeu-se de que o irmão estava a preparar-se para sair do casebre, com uma enxada na mão e um pote debaixo do braço. Manteve-se quedo na enxerga, dando algum tempo para o Sancho se afastar da porta, saltou da cama, pôs um capote pelas costas e lá foi ele, pé ante pé, na peugada do mano. À distância, viu que aquele abria uma cova ao pé de um carvalho velho. Intrigado, aproximou-se um pouco mais e, para sua surpresa, descobriu, com a ajuda da luz pálida da lua, que o pote estava cheio de moedas de ouro.« - Grande sovina, aquele meu irmão», pensou. Ainda viu o Sancho tapar o pote e depositá-lo, com cuidado, na cova, mas decidiu regressar rapidamente a casa e à enxerga, fingindo que nada se tinha passado. Mas, aquelas moedas no pote não lhe saíam da cabeça. O desejo de lhes pôr a mão incendiavam-lhe o cérebro. Depois do resto da noite em branco, levantou-se cedinho com um plano de se tornar rico à custa do ouro do irmão. Ao contrário do que era habitual, ofereceu-se para acompanhar e ajudar o Sancho nas limpezas da cavalariça de uma família abastada da terra. Já nas instalações da estrebaria, na primeira oportunidade, deu um cacete no toutiço do irmão, fazendo-o perder os sentidos Sentou-o contra um poste, atrás de um cavalo, começando a acicatar maldosamente o equídeo. O cavalo reagiu com coices poderosos sobre a cara e o peito do Sancho, acabando por lhe tirar a vida. O animal acabou por ser abatido pela fúria assassina de que, aos olhos do alveitar, fora acometido, e o espertalhão do Mencho indemnizado pelos donos do cavalo, em reparação pela perda do seu ente querido.
Depois da valente ressaca do dia do funeral, o Mencho esperou pelo entardecer, pegou numa enxada e dirigiu-se ao velho carvalho, na esperança de finalmente receber o seu tesouro. Lá chegado, começou a cavar, a cavar, mas nada. Tentou um pouco à direita, cavou, cavou, outra vez sem êxito. Depois à esquerda, também nada. Estranhamente os buracos começaram a ficar enlameados. Continuou a cavar, cada vez com mais violência, até que começou a sentir o chão a fugir-lhe dos pés. Num instante, foi engolido por uma nascente que, naquele momento, surgira das entranhas da terra. Nunca mais, desde então, deixou de jorrar e é agora conhecida pela Fonte do Olho."
Texto de Porfírio Ramos, Ecos de Cacia (outubro 2017), pp.4 e 5
Morada: 40.685250, -8.606472 (Obter direções)